"O homem conhece-se pela sua aparência; o homem prudente, pelo seu semblante. O trajar do corpo, o riso dos dentes e a maneira de caminhar revelam o que ele é." Sirácida (Eclesiástico) 19,29-30
Hoje quero partilhar uma reflexão sobre a importância da aparência. Embora tenha escrito este texto mais direcionado ao público masculino, acredito que qualquer pessoa pode tirar conclusões válidas sobre o tema.
Aparência
A aparência é, sem dúvida, um fator importante, mas vai muito além da estética externa. A maneira como nos apresentamos reflete não só o nosso estado emocional, mas também a forma como somos percebidos pelos outros.
Embora uma boa aparência seja valorizada, quero focar-me num ponto mais profundo: a postura e a autoconfiança.
A Importância da Apresentação
Apesar de a aparência exterior não ser tudo, a forma como nos vestimos e apresentamos em público revela muito sobre nós—o nosso caráter, temperamento e até os valores que cultivamos.
Vestir-se adequadamente, com simplicidade e cuidado, é uma forma de respeito próprio.
Pequenos detalhes, como manter a barba aparada (caso a tenhas), cuidar do cabelo e usar um bom perfume (sem exageros), refletem não só autoestima, mas também saúde e bem-estar. O exterior, muitas vezes, é um espelho do nosso estado interior.
Aqui, refiro-me a um vestuário digno e cuidado, e não a marcas que muitas vezes servem apenas como símbolos de estatuto ou consumismo.
Agora, para ilustrar melhor este conceito, proponho um pequeno exercício mental:
Imagina uma pessoaa ir ao supermercado comprar uma só garrafa de vinho, mas em dois cenários distintos, com aparências completamente diferentes.
No primeiro cenário, essa pessoa está bem arranjada, com um fato elegante, sapatos clássicos, cabelo bem tratado e barba aparada.
Quem a observa pode pensar: "Está a comprar um bom vinho para uma ocasião especial, talvez um jantar com amigos ou um encontro importante."
No segundo cenário, essa mesma pessoa surge com roupas sujas e rasgadas, barba por fazer há semanas e um aspeto desleixado.
A perceção de quem a observa será bem diferente: "Talvez seja um sem-abrigo ou alguém que gasta o pouco dinheiro que tem em álcool."
Este julgamento pode ser influenciado por preconceitos sociais, mas a verdade é que a nossa aparência transmite inúmeras informações sobre nós.
Cuidar da forma como nos mostramos ao mundo é uma forma de transmitir autoconfiança e cuidado pessoal.
Isso não significa que devamos usar fato e gravata diariamente ou seguir um estilo específico, como o old money, por exemplo.
Vale a pena lembrar que até mesmo os trajes formais têm regras, que variam conforme a ocasião.
Fatos claros são mais indicados para eventos formais diurnos, enquanto os mais escuros são mais apropriados para a noite. Em contextos mais rigorosos, como certas cerimónias ou ambientes como casinos, há um dress code específico a seguir.
O essencial é encontrar um equilíbrio entre conforto, autenticidade e cuidado pessoal.
Para mim, a aparência pode ser resumida em quatro princípios fundamentais:
Simplicidade (talvez o mais importante)
Cuidado
Amor-próprio (postura e autoconfiança)
Higiene
Se sentes que a tua aparência não reflete a tua verdadeira essência, talvez seja hora de repensar o que podes melhorar.
Porém, há também o outro lado da moeda. O excesso de ostentação pode transmitir uma imagem errada, como se estivéssemos a tentar impressionar os outros ou a mostrar algo que não somos.
"Não procurem a beleza exterior, pelo arranjo do cabelo, joias de ouro e belos vestidos, mas que a vossa beleza esteja no interior do coração, beleza que não passa e que consiste no espírito de modéstia e mansidão. Essa é a beleza que tem o maior valor diante de Deus”.
1 Pedro 3,3-4
Este ensinamento reforça que a verdadeira beleza vem de dentro—do nosso caráter e atitudes—e não da ostentação externa.
Este é sem dúvida, o meu ponto de vista pessoal. Sei que cada um tem a sua perspectiva sobre o tema e, por isso, gostava de ouvir a tua opinião. Talvez isso me ajude a aprofundar ou até a repensar a minha própria visão.
O que pensas sobre isso?
Até breve, João Lopes
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Num mundo onde se cultiva cada vez mais a aparência, sirva de reflexão este caso da vida de Gandhi:
Como todos sabem, ele só usava uma tanga a fim de se identificar com o povo mais simples da Índia.
Certo dia, em que foi convidado para uma festa pelo Governador inglês, ele chegou assim vestido à dita festa.
Os rececionistass vedaram-lhe a entrada, porque o seu traje não correspondia à solenidade da festa.
Gandhi afastou-se sem dizer palavra.
Ao chegar a casa, fez um pacote com o seu fato de cerimónia e enviou-o ao Governador por um mensageiro.
Quando este recebeu a estranha encomenda, telefonou-lhe a perguntar a razão daquele gesto. Resposta do grande homem:
Fui convidado para a sua festa, mas não me permitiram entrar por causa da minha roupa; se é a roupa que vale, então envio-lhe o meu fato.
Quantas vezes nós temos a tendência de ligar mais importância ao pacote que ao conteúdo, aos ornamentos que à pessoa, ao acidental que ao fundamental.